sábado, 6 de dezembro de 2008

O peso de uma verdade



A frustração do modelo positivista trouxe consigo um novo modelo, baseado na inexistência de verdades. Se a razão não é suficiente para sanar todas as questões colocadas pelo mundo natural e a Revelação havia perdido o "status quo" que outrora ocupara, que fazer agora?
Essa frustração implica uma questão filosófica e uma prática, na parte prática, como viveremos a nossa vida? A resposta: o Existencialismo.
E agora entramos no território sagrado do ego.
O "O homem verdadeiramente livre apenas quer o que pode e faz o que lhe agrada." dizia Rousseau. Esse pensamento, com algumas variantes influi na forma como nós vemos a verdade, como uma escolha, uma "verdade para mim", que talvez possa não ser para você. Ao se tornar flexível em nós, vemos que toda verdade tem um "peso" que varia de pessoa pra pessoa.
As perguntas não são mais se é uma verdade lógica ou se é provável, mas qual o peso que isso tem na minha vida, e aí vai a fórmula para se calcular o "peso" de uma verdade.

Pv = (Q.fonte + F.contato + experiência) - contradições. Onde:

— Q.fonte é a qualificação da fonte do conceito, ou o status dado pelo indivíduo ao emissor do conteúdo
— F.contato é a forma de contato que o indivíduo tem com o conceito. Implica no tempo de exposição, na valoração social com a qual o conceito é apresentado e principalmente, na percepção que o sujeito tem desse conceito.
— Por experiência entendemos os encontros e produtos desses encontros no uso das verdades no dia a dia do indivíduo, isto é, a objetivação e ancoragem dessas verdades.
— As contradições são outras verdades que negam em todo ou em parte a verdade em construção. elas podem entrar no início do processo ou bem tardiamente. Com o passar do tempo as representações vão se estratificando e sofrendo menos os efeitos dessas verdades contraditórias, que como verdades que são, também tem um peso.

Complicou tudo? Vamos resumir o que é importante: Para a grande maioria das pessoas, os conceitos que norteiam suas práticas não são verdades absolutas, elas tem pesos que variam de acordo comos seguintes critérios: de onde veio isso?, como e quando veio isso?, como eu tenho vivido com isso? e o que contraria isso tem que importância pra mim?

Então as verdades absolutas não existem, certo? Não, mas isso é um assunto para outro post. Até lá!

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Múltiplas vozes



Em busca da essência da verdade, às vezes nos desiludimos, pois muitas das idéias que julgávamos exatas e infalíveis são relativizadas. Antes de tudo, sabemos que as Representações são significações dos diversos discursos sociais. Esses discursos são, para nós, mais ou menos verdades, dependendo de se, como e quando chegam até nós. Isto quer dizer que a nossa percepção de verdade vai depender da nossa relação com o discurso que nos atinge.
Daí chegamos a um outro ponto em nossa observação, as representações são formas de pensamento e de linguagem. A linguagem, por sinal está profundamente ligada a todo o tipo de atividade humana. Segundo Vigotsky a linguagem é exatamente o que nos faz seres "pensantes", diferentes dos animais. Indo além, temos o maravilhoso estudo de Bakthin sobre as relações dos discursos. Num trecho do trabalho de Maria Celeste Said Marques, da UFRO, lemos que, para o pensamento Bakthiniano "a interação entre interlocutores é o princípio fundador da linguagem. É na relação entre sujeitos, ou seja, na produção e na interpretação dos textos que se constroem o sentido do texto, a significação das palavras e os próprios sujeitos. Com efeito, pode-se dizer que a intersubjetividade é anterior à subjetividade. Esta é o resultado da polifonia das muitas vozes sociais que cada indivíduo recebe, mas que tem a condição de reelaborar, pois como ensina Bakhtin/Voloshinov, 'o ser, refletido no signo, não apenas nele se reflete, mas também se refrata' (1992a:46)".

Em uma pesquisa sobre as representações sociais da televisão, entrevistei algumas pessoas que me contaram como se deu a formação de novos conceitos a partir de conceitos vindos da telinha. Um homem de pouco mais de trinta anos disse que assistia ao sítio do Pica - Pau Amarelo, aquela primeira versão dos anos 70/80. ele era uma criança evangélica. A TV lhe mostrava um ser fantástico e mítico, típico da cultura brasileira, a igreja lhe falava que sacis não existiam, mas que existiam demônios que levavam pessoas ao engano. Os amigos e parentes compartilhavam da representação de que o saci era um menino de uma perna só que aprontava muitas coisas ruins, contra crianças mal-educadas (falavam isso pra fazer as crianças se comportarem), mas o saci da TV era bonzinho.

Diante desse conflito todo o menino começou a achar que:

1.: o saci existia sim, daquele jeito que mostrava na TV (ele disse que tinha medo de passar sozinho embaixo de árvores com grandes copas, tal qual a imagem do saci que geralmente aparecia no quintal de Dona Benta, onde haviam várias árvores frondosas).

2.: O saci era MAU como os adultos disseram e não como a TV mostrava.

3.: O saci era um demônio que usava a forma do saci para levar pessoas ao engano e fazer maldades, o que justificava seu medo.

Dessa forma, várias vozes (inclusive a dele) contribuíram para o que o menino tomou como Verdade.

Mais uma vez, o assunto não acaba aqui, mas a partir deste ponto já podemos começar a observar o mundo de representaçõese de discursos e traçar boas observações.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Em Busca da Verdade


Complementando o assunto que dissemos na abertura do site, achei interessante esclarecer algumas das idéias que aparecem naquele texto.
As dúvidas de Descartes não o levaram às mesmas conclusões que nós, do Observatium tivemos, o levaram exatamente ao outro lado. Calma, eu explico:
Descartes viu que tudo o que nós temos por verdade vem da nossa percepção do mundo e da razão. Segundo a escola dos racionalistas, a razão é a única maneira de nos chegarmos mais perto da verdade, em oposição à representação, que vem da percepção dos sentidos.
Depois de muita falação de muitos filósofos, desconstruimos a idéia cartesiana pelo fracasso de se chegar à verdade através da razão. Observamos, então as Representações como única forma de verdade, que não é mais uma entidade física e imutável, mas um status que alguns conhecimentos ganham de entidades que detém de autoridade para determinar o que é verdade ou não.
Um exemplo: a religião nos diz uma série de verdades, não porque nos convence a razão, mas porque tem autoridade divina para estabelecer o que é ceto e o que é errado, o que é falso e o que é verdadeiro, é o que chamamos de Revelação.
Da mesma maneira, a ciência cria muitas outras verdades não apenas pela veia empírica mas pela sua autoridade. Você por acaso já se perguntou qual o fundamento de teorias como "o relógio do fim do mundo?" Pois bem, acredita-se que, estatisticamente uma coisa que vem acontecendo tende a continuar acontecendo e sempre aconteceu, é o princípio uniformista, que não pode ser provado, mas é um postulado aceito em quase todo o meio científico.
Voltando ao tema das representações, nós do Observatium propomos uma observação das Representações Sociais que circulam em nosso meio e, através delas, descobrirmos o que o mundo está representando como "verdade".
Não esperamos esclarecer o tema, apenas levantar proposições básicas das teorias (lentes) que usaremos para ver o mundo de uma outra forma, com muitos olhos...

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Um novo olhar para o mundo...


Bem-vindos ao Diário de Bordo do Observatório do Mundo


No cotidiano aprendemos a ver muitas coisas, mas observamos pouco as pequenas mudanças que vão ocorrendo, mudando de forma irreversível a cada dia a maneira como nós nos relacionamos com nós mesmos, com os outros e com o mundo.
Voltamos nossos olhares para a cultura, como elemento transformador da realidade.

Começamos nossa viagem com Descartes que voltou seu olhar do mundo para si, condicionando a existênia da realidade à sua própria percepção dela. Desde então podemos dizer que o mundo não é apenas matéria indiscutível que sustenta nossos corpos, mas um conjunto de percepções sobre essa matéria e suas infinitas relações com outros infinitos elementos. Assim como Descartes se questionou sobre a existência de si mesmo, nos questionamos sobre tudo aquilo que foi imposto aos nossos olhos e ouvidos, ressignificando as coisas e assim, transformando a realidade.


"No princípio era o verbo (...) e sem ele nada do que foi feito se fez" (Evangelho de João, capítulo 1). Segundo boa parte das pessoas acredita, o mundo foi feito através da palavra; e é através dela que o mundo se modifica!!! Todas as formas de comunicação, portanto, compõem discursos que formam a teia do que percebemos como real. Por isso, lançamos hoje a pedra fundamental do Observatium que vai tentar captar alguns desses discursos e lançá-los para discussão de vocês, tantos outros observadores com tantos outros olhares e opiniões, em infinitas possibilidades de realidades.

Um abraço!