segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Ainda sobre as origens dos nossos conceitos



Em outra postagem, propus que a fonte daquilo que consideramos verdade influencia na elaboração de nossa verdades. Ainda, o falar sobre a verdade revelada, oriunda da religião, vimos que os nossos conceitos se estabelecem e se solidificam não só através de nossas experiências, mas também, e principalmente, através de nossas relações.
Por relações entendemos o contato com outras pessoas, mas também o contato com as instituições e com os meios virtuais (internet, tv, etc) sendo que esses últimos são sempre personificados em nosso imaginário. (o UOL disse, a Folha publicou e assim por diante...)
Vemos que, hoje em dia, com o esvaziamento das relações reais e, sobretudo, familiares, e num crescimento vertiginoso das relações virtuais e da importância crescente que se dá aos mass media, a construção dos conceitos tem importância cada vez menor das instituições tradicionais - escola, igreja, família, sendo que a construção das verdades fica por conta de quem tem mais poder de comunicação de massa, isto é a TV, canais de internet e multimedia e o mercado, com seus objetos-signos que portam valores embutidos pela publicidade.
Não podemos esquecer que, embora critiquemos a Religião por seu saber Revelado e, por isso, inviolável (a autenticidade do saber revelado não pode ser questionada, pois a Fonte desse saber é Divina e infalível), Nós também não passamos pelo crivo da razão todos os nossos saberes. Nossos gostos não são dados pela razoabilidade, não escolhemos gostar de pagode, funk ou sertanejo porque isso nos trará mais benefícios. Todavia, não podemos negar que esses gostos são construídos e, em parte, escolhidos segundo outros critérios.
Se isso é verdade quanto aos conceitos relacionados à arte, isto é, que eles possuem critérios de escolha em que a razão tem pouco peso, também podemos dizer isto de conceitos que são, pelo menos em seu enunciado, completamente racionais.
Um desses exemplos encontra-se claramente na política. No Brasil e creio que em todo lugar, as escolhas políticas são feitas, primeiramente, por critérios não-racionais. Pense na subida de um partido como o PT ao poder, e digo isso apenas por que o PT está no poder. Não é razoável supor que uma organização política tenha condições de reger o país mesmo sob fortes evidências de corrupção e incompetência de gestão. Não se trata de discurso de oposição, basta ler os últimos noticiários. Por que, então, o PT foi o grande vencedor em 2010?
Perguntar-se isso seria como perguntar por que muitos torcem pelo Corinthians. Obviamente, existe um componente mais importante que a razão, qual seria?
O afeto, a emoção, a pressão do grupo e a Qualificação da Fonte da representação são os primeiros argumentos, não racionais e até irracionais que nos impulsionam,que nos dão a ideia de pertencimento a algo maior e que, ao mesmo tempo, nos fazem pensar que aquilo é legitimamente nosso, espontâneo, autogerado.
"Gosto do Restart porque eu gosto", não porque eles estão na mídia, não porque eles têm um som desse ou daquele jeito, mas gosto da banda por motivos que nem sei explicar - só pra constar, isso é um exemplo eu, Éder, não gosto de Restart.
Dessa forma, o conceito passa a ser tão inviolável quanto a Revelação Divina, questioná-lo é o mesmo que pôr em xeque sua fonte, dotada de poderes que nós demos a ela através de nosso afeto.
Criticar os atos do governo é agora tentar destruir parte de nós mesmos, pois projetamos nele nossas emoções e nosso afeto. O Führer não podia ser deposto mesmo após tantas atrocidades, não depois que foi aclamado por 90% dos cidadãos alemães como líder máximo do país.
Como dito antes, o peso de um conceito depende, primeiramente, das relações estabelecemos com a Fonte. A partir do momento em que nos é possível identificar essa fonte e mapear nosso afeto por elas, nos é possível ter um pensamento mais claro a respeito daquilo que consideramos verdade, e escolher a verdade de forma mais livre.

P.S. Pode parecer que eu disse que nós damos às fontes o poder que julgamos que elas tem. e eu disse isso mesmo, mas não disse que nós criamos os deuses, como muitos supões, mas falaremos disso em outro momento

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